6 de mai. de 2008

Um jeito atrasado de fazer política




A última vez em que os brasileiros cairam no jogo sujo de envolver a vida pessoal dos candidatos numa campanha política foi em 1989. Na ocasião, uma ex-mulher de Lula chamada Miriam foi contratada pela equipe de marqueteiros de Collor para "testemunhar" num dos guias eleitorais que Lula a teria tentado convencer a abortar a filha de ambos. Mesmo aparecendo indignado ao lado da menina no dia seguinte, o candidato do PT não conseguiu reverter o estrago em sua imagem. Então os brasileiros elegeram Collor e só depois deram-se conta da besteira que tinha feito, ludibriados que foram por um jeito atrasado de fazer política. A partir daí, esse tipo de "marketing" não tem funcionado mais. Pelo contrário, costuma provocar, inclusive, uma certa rejeição no eleitorado aos métodos baixos utilizados. Prova disso é o fato do Brasil ter sido governado por dois mandatos sucessivos por um presidente a quem se atribui um filho não assumido fora do casamento, o que teria, segundo informado em diversas ocasiões, levado o empregador a transferir a mãe da criança para outro país. O vídeo do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, que está fazendo sucesso na internet, só pode ter ido parar no youtube por motivações políticas. Afinal, imagens de um político tocando um instrumento num momento de lazer e, aparentemente, correspondendo ao assédio de uma mulher que poderia, quem sabe, estar à serviço de quem tomava as imagens, não representam necessariamente novidade. Sequer se caracterizam como escândalo. A menos que haja uma intenção prévia de produzir-se um estado de escândalo. O fato é revelador de que, dependendo da região, ainda há quem aposte nesse jeito atrasado de fazer política, vasculhando a vida pessoal das pessoas. Como marqueteiro político, não foram poucas as vezes em que fui estimulado a trilhar esse caminho torto na elaboração de peças publicitárias. Mas sempre me neguei. Preferi bater forte, focado sempre nas deficiências administrativas, dando a elas poderosas características dramáticas. A vida pessoal que me interessava era a vida das pessoas do povo, vitimadas pelo descaso governamental. Estimular a exploração de questões íntimas, xeretando e registrando momentos de descontração de personalidades políticas, é temerário, pois pode estimular uma espiral descendente não apenas na imagem dos políticos, mas na percepção dos critérios de avaliação de toda uma sociedade. Ou seja, no caso da Paraíba, fica a impressão de que por aqui ainda não se conseguiu superar uma espécie de pobreza cultural naquilo que nos deveria induzir a uma reflexão madura nas decisões político-eleitorais. O resto do Brasil está se divertindo com as imagens. Não necessariamente com as imagens do governador que, enfim, não significam nada demais. Mas com a imagem da Paraíba, capaz de dar relevância a uma prática antiética, além de reveladora de uma índole perversa e de caráter suspeito, coisa que, testemunho, não deve ser confundida com as características comuns à maioria do paraibanos.