2 de ago. de 2007

A Paraíba e o burro em pé.

Quando eu era criança havia um jogo que consistia em a gente colocar em pé duas cartas de baralho, uma sustentada na outra; depois, cada um dos jogadores ia sobrepondo novas cartas sobre as primeiras, com todo o cuidado para não derrubar a armação. Quem derrubasse perdia. A lembrança desse jogo da minha infância – o burro em pé - me veio à mente quando eu soube da cassação de Cássio Cunha Lima pelo TRE-PB.
A verdade, meus amigos, é que a política paraibana é uma sucessão de safadezas tão antiga e tão pesada que, um dia, fosse quem fosse o político no poder, a casa ia cair sob o peso de tanta safadeza. Bastaria apenas mais uma safadezazinha de nada para tudo desandar. Calhou de cair na cabeça de Cássio. Mas é pura coincidência. Ele apenas estava no lugar errado na hora errada e não colocou a carta no “burro” com cuidado suficiente.

Pense num eleitor mala!

A diferença de votos na vitória de Cássio Cunha Lima sobre José Maranhão terá sido de pouco mais de 50.000 votos. Os cheques do FAC distribuídos foram 35.000. A relativa aproximação entre estes dois números colaborou para o entendimento dos juízes do TRE de que a distribuição de dinheiro por parte do governo interferiu no resultado da eleição. O que revela que os juízes paraibanos conhecem muito bem o que move uma parcela determinante do eleitorado da Paraíba: a venda do voto, pura e simples. A cassação de Cássio Cunha Lima não deixa, portanto, de ser também a cassação desses votos. A única diferença é que o eleitor “cassado” ficou com o dinheiro e o candidato “cassado” perdeu o mandato.

Eu daria uma lida n’O Moído de 2002


Quem ainda não leu “O Moído de 2002 – Bastidores da campanha eleitoral que rachou a Paraíba” deveria aproveitar o momento e dar uma lida. A história narrada ali por esse amigo de vocês nunca esteve tão atual e seus personagens tão presentes. Os interessados podem me escrever e encomendar um exemplar: stalimir@stalimir.com.br

Anderson Pires renuncia e entrega ABAP à Mix


Eleito, há cerca de dois meses, como cabeça de uma chapa que se pretendia renovadora para a gestão do capítulo Paraíba da Associação Brasileira de Agências de Publicidade, o dono da Signo já pulou fora da entidade. Não só abandonou o cargo de presidente como desfiliou sua agência. Rumores indicam que Pires, na verdade, jamais cogitou permanecer no cargo e que serviu apenas aos interesses da Mix, agência oficial do governo Cássio Cunha Lima: o nome de Jurandir Miranda, imediato de Anderson Pires na chapa, não teria a simpatia do mercado numa candidatura à presidência. Com a renúncia do presidente, Miranda assume. Há também uma outra versão: Pires terá tirado o time receoso da superexposição do cargo num momento complicado para os fornecedores da Infraero que estão sob a lupa do Tribunal de Contas da União.

Interino deve ter vida curta na presidência

A manobra para a Mix assumir a ABAP-PB pode ser um tiro pela culatra. O regulamento da ABAP estabelece que no caso de renúncia, afastamento ou falecimento do presidente eleito, caberá ao sucessor interino a convocação de novas eleições no prazo de sessenta dias. No próximo dia 16, a diretoria executiva nacional da ABAP reúne-se em João Pessoa com os membros remanescentes da diretoria eleita para tratar do assunto.

Comunicar e Crescer encerra segunda etapa


Com público recorde de quase 19.000 participantes – 80% acima da primeira versão -, o Comunicar e Crescer 2, programa de seminários da ABAP nacional voltado para pequenos e médios empreendedores, faz no próximo dia 28, em Araçatuba, São Paulo, sua 47ª e última apresentação. Terão sido contempladas, então, 44 cidades brasileiras e 3 no exterior (Maputo – Moçambique -, Luanda – Angola – e Praia – Cabo Verde). A cartilha Comunicar e Crescer, parte integrante do seminário, e oferecida aos participantes através do site da ABAP teve 45.000 downloads em um ano, o que significa uma cartilha baixada, aproximadamente, a cada dez minutos.

"Cansei": fracassa o grito dos grã-finos

Bem que a “elite branca paulista” – conceito ressuscitado oportunamente pelo ex-governador Cláudio Lembo – tentou repetir uma espécie de “9 de julho light”. Mas a coisa fez água. O movimento “Cansei”, criado pelo jornalista e empresário João Dória Júnior e encampado por algumas lideranças tucanas, pretendia ser a grande voz nacional a dar um basta naquilo que entendem como uma espécie de “desgoverno” Lula. Murchou. Os motivos vão desde uma descarada partidarização do discurso até a falta de uma personalidade “acima do bem e do mal” para dar-lhe algum crédito. Virou um protesto de grã-finos, que só fez deixar a bola quicando na área para o Lula declarar, na sua habitual sem-cerimônia inconseqüente: “querem brincar de democracia? Então, vamos ver quem coloca mais gente nas ruas”.

Para ler e moer


“A Independência e a República, que em quase toda a América deram lugar a um profundo esforço nacional por elevar o nível cultural da população, capacitando-a para o exercício da cidadania, não ensejaram um esforço equivalente no Brasil (...) Não ensejando uma renovação de liderança, mas simples alternância no mesmo grupo patricial oligárquico, se perpetua também a velha ordenação social.” (Darcy Ribeiro em “O povo brasileiro” – Companhia das Letras).

29 de jul. de 2007

Enfim, a solução para a transposição...

PT da Paraiba aprova resolução em favor da Transposição do São Francisco

Os 120 filiados do Partido dos Trabalhadores presentes como delegados no Congresso Estadual, que acontece neste fim de semana no Hotel Xênius, aprovaram, por unanimidade, proposta da Tese Construindo um Novo Brasil e dos deputados Rodrigo Soares, Luiz Couto e Jeová Campos, a resolução que dar total apoio ao PAC e à Transposição do São Francisco.

(Nota publicada no portal WSCOM)

Coração sangrando e boca sorrindo

199 morreram no acidente da TAM



Na posse de Nelson Jobim, Lula, Waldir Pires e Juiniti Saito
morreram de rir




Quinta-feira, dia 26, fiz meu primeiro vôo depois do acidente da TAM em Congonhas. Embarquei pontualmente num turboélice ATR 42 da Pantanal para Presidente Prudente. Foi interessante embarcar num avião a hélices num aeroporto quase vazio. Me senti nos ano s 50. Bom, mas o que eu queria contar aqui foi o que senti ao comprar O Globo. Na capa, na notícia sobre a posse de Nelson Jobim para o Ministério da Defesa, a partir do presidente Lula, todos os personagens sorriam, muito divertidos. Desculpem mas eu não estou mais em idade nem com paciência para ficar tapando o sol com peneira. A verdade, meus amigos, é que a risada do Lula me fez refletir sobre se seu coração “sangra” de fato, diante de um típico drama pequeno burguês como a queda de um avião. Ele, que vive se ufanando de ter vindo de Garanhuns trepado na carroceria de um caminhão, estará mesmo com o “coração sangrando” pela morte das cerca de duzentas pessoas na tragédia com o avião da TAM ou o conceito sentimentalóide que pautou sua fala sobre o caso terá sido apenas mais uma “contribuição” de marqueteiro, como o Fome Zero e o PAC? A meu modo de ver, o Lula me pareceu muito mais presente, verdadeiro, autêntico, na risada, nas piadinhas e nos comentários de mau gosto sobre o medo de avião. O discurso sobre medo de avião nada tem a ver com as pessoas que perderam seus amigos e parentes no vôo; o discurso foi dirigido, como sempre faz Lula, para o povão do programa bolsa-família, que só conhece avião por fotografia. Gente que, igualzinha ao Lula no comentário, também morre de medo de avião. Só nós mesmos, de classe média para cima, é que ficamos chocados com as referências do presidente sobre entregar a alma a Deus ao embarcar num avião. Ele não está falando conosco. Ele está reduzindo o acontecimento a uma evidência, a uma grande probabilidade, a uma confirmação dos receios das pessoas mais simples e mais ignorantes - sua massa de eleitores - sobre o mistério de voar. E, com isso, desviando o foco da discussão, pelo menos ao nível desse povo, das questões relativas à incompetência gerencial da aviação brasileira. É isso e apenas isso o que interessa a Lula: não sacrificar sob nenhuma justificativa seu patrimônio eleitoral e dane-se a burguesia! Para tanto, ele é capaz de emitir comentários esdrúxulos, inconvenientes e reveladores de uma insensibilidade patética à dor alheia. Quanto aos outros sorridentes nas fotos da reportagem - o próprio Jobim, inclusive, que se deu ao direito a uma espécie de piada (“aceitei o convite porque minha mulher me disse para aceitar”) -, são todos produtos da ilha da fantasia chamada Brasília, aonde os problemas brasileiros só chegam como abacaxis e aborrecimentos incompatíveis com a qualidade de vida pessoal e funcional que seus cargos potencialmente proporcionam. Por que, por exemplo, deixaria de sorrir, quase gargalhar, o ministro da aeronáutica, Juniti Saito? O que é uma risada no meio da solenidade de demissão de um ministro por incompetência e da posse emergencial de outro durante uma crise que deixou duzentos mortos e centenas de famílias enlutadas, para quem condecorou a turminha da Anac três dias depois do desastre? Quem é capaz disso acha graça até de fratura exposta. Por que deixaria de rir, também, Waldir Pires? Anestesiado e imobilizado por um processo regular e longo de auto-destruição moral, por que não permitir-se, enfim, ativar alguns poucos músculos da face para uma expressão derradeira e simbólica de seu descompasso existencial? Enfim, é muito fácil rir em Brasília, espécie de casa grande no meio dessa grande senzala chamada Brasil. Como ocorria nas casas grandes, onde viviam os senhores e as senhoras de escravos, ali se tricota, se dá risada, se fuma charutos, se faz gestos obscenos dirigidos aos “de fora”, estudam-se frases de efeito para enganar os outros, vive-se o melhor dos faz-de-contas... Aos familiares dos mortos da TAM resta aguardar a garimpagem dos restos dos seus no meio dos escombros e, quando solicitados, dar um pouco de sangue para a identificação de algum laço genético com pedaços de carne carbonizada. Acho que Lula, Jobim, Pires e Saito nunca tiveram que doar sangue para tentar identificar algum laço genético com pedaços de carne carbonizada. Há quem diga que depois dessa experiência você não consegue mais sorrir.