
Para mim, tudo o que soa a “nota oficial” institucional carrega muito pouco de verdade e de honestidade. É pura política de conveniência.
Essas reflexões me ocorrem no final de uma semana marcada pelo embate entre Dom Aldo Pagotto, cardeal arcebispo da Paraíba e representantes da Igreja Universal do Reino de Deus, logo após a inauguração do majestoso templo da Universal na avenida Epitácio Pessoa.
Foi interessante observar que a troca de acusações começou com um indivíduo – Pagotto – acusando uma instituição – a Universal. E teve como resposta uma acusação ao indivíduo. Dom Aldo acusou a Universal de explorar a boa fé do povo para arrecadar dinheiro, sob a promessa de que as pessoas alcançarão seus sonhos de consumo material. E foi acusado de ser “o maior político da Paraíba”.
Abstraindo a circunstância da Paraíba ser um forte pólo de influência da Igreja Católica e, portanto, o cardeal tenda a receber uma defesa mais vigorosa, não consigo evitar o raciocínio de que sua atitude foi uma simples tentativa de defesa de território. Ao questionar os métodos da Universal, de maneira generalizada, Pagotto não deixa margem para que se considere um trabalho extraordinário de recuperação de gente marginalizada - viciados em drogas, alcoólatras, criminosos e suicidas potenciais, etc – realizado pela instituição. Confesso que também não gosto do discurso mercantilista da turma do Bispo Macedo, mas, objetivamente, não vejo nos métodos de arrecadação financeira práticas muito diferentes da Igreja Católica, ao longo da sua história (história, aliás, recheada de episódios tenebrosos, merecedores, volta e meia, de pedidos de perdão por parte dos papas.
Acredito que o discurso do cardeal arcebispo da Paraíba comete o erro da generalização preconceituosa e, por isso, consegue pouco mais do que acirrar ânimos de maneira pouco racional entre “ovelhas” de um lado e de outro.
A resposta da Universal foi interessante por tocar num ponto sensível à Dom Aldo Pagotto: a política. Uma resposta dura porque fez sentido.
Pagotto é, sim, extremamente envolvido com política. É vaidoso e dado a incorporar uma espécie de liderança moralizadora. Na campanha eleitoral de 2006, participou ativamente do processo, tomando, inclusive, partido ou tendendo a apoiar a reeleição do governador Cássio Cunha Lima.
Se isso não for fazer política, confesso, então, que já não sei o que é...
Com relação à Universal, o comportamento de Dom Aldo me parece revelador de um certo “autoritarismo eclesiástico”. E, como conseqüência, estabelece, querendo ou não, um novo cenário de embate de poder no Estado. Ou não será significativo o fato de que a Rede Record, cuja repetidora na Paraíba é o Sistema Correio, grupo de mídia alinhado com a oposição ao governador, pertença à Igreja Universal? Por outro lado, existe a evidência de que Pagotto escreve com regularidade no Jornal da Paraíba, pertencente à repetidoras da Rede Globo, TVs Cabo Branco e Paraíba, que cerram fileira com o governo Cássio Cunha Lima. (Será essa uma de suas trincheiras para o enfrentamento com a Universal/Record/Correio?)
A verdade, meus amigos, é que o “rebanho paraibano” está em disputa e nessa horas as igrejas, os partidos e os meios de comunicação, todos costumam ser muito parecidos: pegam pesado. É um jogo de interesses políticos e econômicos. Nada de anormal, é próprio do sistema de mercado em que vivemos.
O que incomoda, na verdade, é sempre aquilo que ofende a liberdade e a democracia. Por hipócritas que sejam nossos conceitos de liberdade e democracia, são os melhores que temos e devemos buscar aperfeiçoá-los, jamais negá-los. Portanto, sempre que alguma autoridade, civil, militar ou eclesiástica se arvorar juíza da nossa liberdade, baseada apenas em suas crenças e dogmas, devemos reagir com firmeza. Ou acabaremos virando, literalmente, um bando de ovelhas.