20 de fev. de 2007

Quarta-feira de brasas














2002 - Nova Consciência 2007 - Consciência nova



Walter Santos amarga um mau pedaço depois de ter “denunciado” em seu portal – wscom - que o governador Cássio Cunha Lima deixou para trás a Paraíba natal para pular carnaval no Recife. Amigos, correligionários, além dos puxa-sacos de praxe, resolveram cair matando sobre o jornalista, indignados com a insinuação de que Cássio desprezou o carnaval da sua terra. Walter lembrou, em matéria e artigo sobre o assunto, que o governador não só deu as costas à Paraíba durante os dias de folia, como também negou qualquer contribuição financeira do Estado para a festa. Walter Santos costuma ser um sujeito controlado, pois aprendeu a encarar a vida com uma boa dose de frieza depois de moer tantos anos na confirmação de seus negócios. A exceção, no entanto, é quando pressente que estão prejudicando um dos grandes amores da sua vida, aquilo que ele insiste em chamar de “carnaval paraibano”, espécie de fuzarca popular à moda antiga, que remete aos folguedos do Brasil colonial. Desorganizado, pobre mas, enfim, seja lá o que isso signifique para o caso, “espontâneo”.
Que Cássio Cunha Lima ia desfilar no Recife numa espécie de bloco de governadores bonitões já se sabia há semanas até na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Portanto, não há nenhuma novidade no fato. A relevância que o portal wscom deu ao assunto é produto do idealismo incansável de Walter Santos na defesa do tal carnaval paraibano. Na semana anterior ao episódio, ele me contava emocionado o que estaria colocando em prática, por conta e risco da sua empresa: uma espécie de alvorada carnavalesca em frente à sede do portal, com direito a café da manhã para os vizinhos e foliões. Estava envolvido até a medula na organização do evento. Nos anos em que militei na Paraíba fui testemunha do orgulho com que o jornalista mostrava seus feitos em prol do que ele defende como uma das maiores expressões da cultura nativa. Acredito que só pelo que fez, ao longo da vida, em prol das manifestações culturais do Estado, esse paraibano já deveria ter ocupado um cargo público do ramo. Há que se compreender portanto que, ao assistir as cenas de um animado Cássio Cunha Lima pulando frevo no Recife, Walter Santos se tenha deixado envolver por um sentimento de injustiça. E mandado às favas o compromisso jornalístico com o “news” e revolvido como “escândalo” um fato anunciado com boa antecedência. A reação indignada da turma de Cássio é sintomática do potencial de estrago que sua decisão de trocar João Pessoa pelo Recife carregava naturalmente. Não bastasse, o governador já vinha vulnerável por conta de aumentar o próprio salário em 75% na semana anterior, apostando, quem sabe, que o assunto se dissolveria em cerveja e desapareceria entre confetes logo em seguida. Por outro lado, Cássio parece ter agido confiando em cálculos que apontavam uma certa razoabilidade nas decisões, considerando-se que ainda estamos longe de 2010 e que, considerando-se a parca memória do eleitor, até lá tudo isso serão águas passadas ou “roladas” para ficar no clima carnavalesco.
Algo me diz que temos que entender e aceitar que Cássio Cunha Lima não é Ronaldo Cunha Lima, não e Wilson Braga, não é Tarcísio Burity, não é José Maranhão... Nenhum desses, nem em sonho, ousaria desfrutar de uma festa que ocorre, praticamente, em cada município brasileiro, numa terra que não fosse a sua e a de seus eleitores. É premissa do político profissional compartilhar com seu povo a alegria e a dor, ir ao enterro e ao batizado; abrir as festas e estar à frente das mobilizações populares. A questão é que o jovem governador paraibano pertence a uma geração globalizada, pouco afeita a sentimentalismos regionalistas. Por pior que isso possa parecer, tem seu lado bom. Sem sair do tema carnaval, basta olhar para a Bahia para entender que aceitar que as coisas mudam pode trazer benefícios tremendos para toda a sociedade. Os baianos faz tempo abandonaram as “tradições” e inventaram um carnaval alinhado com a demanda internacional plugada na contemporaneidade cultural. Pernambuco, por sua vez, investiu pesado na “modernização” das suas tradições. Mas seu carnaval não se tornou importante por causa disso, ele sempre foi importante, por ter marcas fortes, como o frevo, o maracatu... Já a Paraíba me dá a impressão de que faz um carnaval cada vez mais para dentro. Acho importante preservar tradições. Nós, gaúchos, aliás, fazemos isso muito bem: não há cidade no Brasil onde não haja um CTG, Centro de Tradições Gaúchas. O de João Pessoa, aliás, é ativíssimo. Mas é preciso que as tradições tenham mais do que um significado histórico a ser preservado, sob pena de virar peça de museu. É preciso que tenham apelo mercadológico para gerar os recursos que as transformem num bom negócio para todos. Paga-se uma boa nota por um abadá para pular o carnaval em Salvador. Pagam-se milhares de reais pelas passagens e hospedagens para dançar o frevo no Recife. Ou seja, percebe-se valor no apelo dessas marcas regionais. Não se pode dizer a mesma coisa de “Cafuçú”, “Muriçocas” ou “Virgens de Tambaú”, por exemplo, iniciativas pontuais de João Pessoa, com um significado e abrangência de raio curto. As causas podem ser muitas, começando pela própria inexpressão da cultura paraibana, sempre vitimada por uma acirrada disputa de poder na sua representatividade e por uma ortodoxia arrogante e inútil. A Paraíba precisa decidir o que quer da vida. Se quer continuar sendo a “pequenina”, a ser cultuada em prosa e verso por gente frustrada e ressentida do sucesso alheio, ou uma “grande Paraíba”, determinada a disputar mercado, profissionalmente. Foliões dispostos a “consumir” carnaval onde achar que vale à pena o Brasil já mostrou que tem. Portanto, ou a Paraíba entra no jogo ou nem mesmo o governador e o prefeito vão se animar a brincar por aqui.

3 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro Stalimir, bom dia
Mais uma vez vc premiando seus escritos com nossa atuação nesse conturbado mundo da comunicação e/ou da cultura.

Queria lhe reafirmar que o comentário é fruto de conhecimento de causa, desprovido de qualquer sentimento menor.

Adiciono apenas que, nesse mesmo comentário, inseri Ricardo Coutinho e José Maranhão, também ausentes do pedaço carnavalesco pessoense.

Do amigo e leitor
Walter Santos

Anônimo disse...

Caro editorialista,
Você escreve muito bem, nos brinda com boas matérias, mas tenho que ser sincero com você,"Quarta-feira de brasas" foi inoportuno. Temos coisas mais importantes para discutir. Merecemos coisa melhor. Mesmo assim, continuo apostando na sua coluna.

Anônimo disse...

Um ditado antigo descreve bem o que nos ocorre:
Cada povo tem o governo que merece!!!
Não escolhemos???
Pediu... agora leva!!!