12 de mar. de 2007

Porque Ricardo tem razão.











João Pessoa (Brasil)














Lagos (Nigéria)



Não é necessário fazer doutorado em urbanismo para entender as profundas intervenções que, muitas vezes, uma cidade necessita para garantir um futuro digno e civilizado para sua população. Basta ampliar o seu raio de pesquisa para um pouco além da informação oferecida pela aldeia e observar o que ocorreu, ao longo da História, com boa parte das aglomerações humanas. Aliás, feliz do povo que tem no comando da administração da sua cidade alguém que estudou e continua estudando os temas de interesse para o cumprimento eficiente das suas obrigações. Ricardo Coutinho é um caso típico. Talvez um dos prefeitos mais intelectualmente preparados no exercício do cargo hoje no Brasil. (Não creio que Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo, por exemplo, tenha a cultura e a educação para a condução de seu mandato que possui Ricardo.) Quem acompanha as gestões administrativas municipais mais avançadas do mundo, percebe que Ricardo Coutinho está alinhado com a contemporaneidade e faz da sua gestão compromisso, inclusive, com a salvaguarda da qualidade de vida do planeta. Sua eleição, em 2004, em primeiro turno, foi reveladora de que o povo é sempre mais sábio do que se imagina. E que o tempo, as expectativas e as frustrações não passam em vão. Forjam, na verdade, convicções, pelo menos, a respeito daquilo que não se quer mais. Quem se deu ao trabalho de queimar alguns neurônios na leitura de simples revistas - nada de compêndios acadêmicos - como a Forum (edição 47, de fevereiro de 2007) ou a Piauí (edição de fevereiro de 2007) encontrou reportagens muito interessantes sobre as conseqüências da incompetência, da negligência e da corrupção na administração pública. Em amplas reportagens, as revistas retratam o caos em que converteram cidades como Lagos, na Nigéria, "um aglomerado de 15 milhões de pessoas onde o lixo é a mercadoria que mais circula e milhares de catadores, camelôs e favelados vivem de restos". E estamos falando de um país assentado sobre poços de petróleo e minas de diamante. Este e outros exemplos africanos denunciam as conseqüências de administrações focadas, exclusivamente, no saque das riquezas e no desvio do dinheiro público, totalmente desinteressadas em imprimir as ações vigorosas, muitas vezes impopulares, necessárias para evitar o caos urbano e a contaminação dos recursos naturais. João Pessoa não tem 15 milhões de habitantes. É uma cidade pequena, de menos de 700.000 habitantes. Portanto, está em plenas condições de evitar uma tragédia urbana como a que se abate em cidades, como Lagos, Jacarta, Nairóbi, Manila e, porque não dizer, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. A degradação ambiental alcançou tamanha dimensão em regiões, como Soweto, na África do Sul, que a água não podia mais ser consumida, sob pena de contaminar a população inteira. Como não havia tecnologia nacional para a recuperação dos mananciais, o serviço de água foi privatizado e entregue a uma empresa francesa. Resultado: hoje, os sul-africanos recebem água em suas casas pelo sistema pré-pago. Como descreve a matéria da "Forum", "quando os créditos terminam, o fornecimento é interrompido." Em Lagos, no Mercado Central, construção decadente e afundada num lodaçal, centenas de crianças sobrevivem de lavar os pés das pessoas à saída. Por que as coisas chegam nesse estado calamitoso? Fatalidade? Não, trata-se apenas daquilo de que já se falou aqui: incompetência, negligência e corrupção. Ricardo Coutinho foi duramente criticado e sofreu não poucas tentativas de boicote à execução de medidas fundamentais para evitar um futuro igualmente caótico para João Pessoa. Dois exemplos são bastante emblemáticos: a remoção dos chamados "fiteiros", que ocupavam ruas e calçadas, sem nenhum outro critério senão a conveniência para seus negócios e a reforma do antigo Mercado Central, sujo, decadente, contaminado e utilizado para as práticas mais ilícitas, mas até, então, mantido intocado por irresponsabilidade e covardia de gestores municipais anteriores. Compreende-se que esses tipos de intervenções costumem enfrentar uma resistência natural dos prejudicados, gente que forjou uma mentalidade derrotista e conformada com as circunstâncias. O condenável, sob todos os aspectos, é o oportunismo barato de certos politiqueiros sem ideologia nem discurso e que se valem dos dramas pessoais alheios para criar em torno de si uma aura de defensores dos desfavorecidos. Esses serão vencidos pela História. A verdade é que Ricardo Coutinho, por circunstâncias históricas, recebeu uma missão e a está cumprindo, na esteira de uma vocação empreendedora e ética, própria de uma parcela renovada de administradores do mundo inteiro. Não é diferente quando o prefeito de João Pessoa assume que cabe a ele a árdua tarefa de substituir funcionários públicos nomeados politicamente por funcionários públicos nomeados por concurso. É outra intervenção política profunda focada na consagração de uma efetiva democracia. É doloroso para quem perde, individualmente, mas conveniente para o interesse coletivo. No fundo, a população intui que Ricardo Coutinho faz o que tem que ser feito e, provavelmente, por isso, seus índices de aprovação se mantém altos. Não por acaso o grande embate eleitoral de João Pessoa, com vistas a 2008, não se dá na escolha de seu adversário, mas, apropriadamente, na escolha de seu vice.


1 comentários:

Anônimo disse...

Estou impressionado. Descobri seu blog há pouco e já me deparo com um texto maravilhoso como esse, em todos os sentidos. Pq não consta de um editorial de jornal, ou de uma coluna, para maior alcance? Parabéns mesmo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Este blog ainda é do Stalimir, ou foi Nonato - chefe da Secom de Ricardo - quem escreveu?

Anônimo disse...

João Peessoa é uma cidade privilegiada. Concordo com o seu comentário quando diz que a administração de Ricardo tem se preocupado com o futuro da cidade e tem tomado providências importantes para a melhoria da qualidade de vida do pessoense, mas você não pode ser injusto com o ex-prefeito Cícero Lucena que, igualmente, se preocupou e agiu, com programas e ações exatamente nos pontos de seu elogio a atual administração,senão vejamos: Cícero foi quem teve a primeira preocupação em tirar os ambulantes das calçadas, construiu espaços para abrigá-los como o Terceirão, 4x400 e o Durval Ferreira. Com relação ao lixo, acabou com a grande chaga da capital, que era o lixão do Roger, construindo um moderno aterro sanitário. Abriu e pavimentou ruas; constuiu viadutos para aliviar o trânsito, até hoje bem utilizados; universalizou o ensino fundamental para educar futuros adultos na construção de uma cidade verde, limpa e boa de se morar. Comentário bom o seu, porém com essa injustiça que merece uma reparação em tempo hábil.