10 de fev. de 2007

Autoritarismo eclesiástico

Sinceramente, quanto mais eu vivo menos acredito nas instituições e mais atribuo às consciências e atitudes individuais qualquer progresso na formação de um ser humano de melhor qualidade. Instituições costumam ser corporativistas e acobertadoras das mazelas de seus membros. Já o indivíduo pode ser avaliado com mais objetividade, uma vez que é agente e porta-voz de sua personalidade e de seu caráter. Por isso, quando alguém me pede opinião sobre qualquer ordem ou sociedade que reúna mais de duas pessoas, eu pergunto de qual delas se está falando. Trata-se de um certo ceticismo com relação às propostas de “visão coletiva”.
Para mim, tudo o que soa a “nota oficial” institucional carrega muito pouco de verdade e de honestidade. É pura política de conveniência.
Essas reflexões me ocorrem no final de uma semana marcada pelo embate entre Dom Aldo Pagotto, cardeal arcebispo da Paraíba e representantes da Igreja Universal do Reino de Deus, logo após a inauguração do majestoso templo da Universal na avenida Epitácio Pessoa.
Foi interessante observar que a troca de acusações começou com um indivíduo – Pagotto – acusando uma instituição – a Universal. E teve como resposta uma acusação ao indivíduo. Dom Aldo acusou a Universal de explorar a boa fé do povo para arrecadar dinheiro, sob a promessa de que as pessoas alcançarão seus sonhos de consumo material. E foi acusado de ser “o maior político da Paraíba”.
Abstraindo a circunstância da Paraíba ser um forte pólo de influência da Igreja Católica e, portanto, o cardeal tenda a receber uma defesa mais vigorosa, não consigo evitar o raciocínio de que sua atitude foi uma simples tentativa de defesa de território. Ao questionar os métodos da Universal, de maneira generalizada, Pagotto não deixa margem para que se considere um trabalho extraordinário de recuperação de gente marginalizada - viciados em drogas, alcoólatras, criminosos e suicidas potenciais, etc – realizado pela instituição. Confesso que também não gosto do discurso mercantilista da turma do Bispo Macedo, mas, objetivamente, não vejo nos métodos de arrecadação financeira práticas muito diferentes da Igreja Católica, ao longo da sua história (história, aliás, recheada de episódios tenebrosos, merecedores, volta e meia, de pedidos de perdão por parte dos papas.
Acredito que o discurso do cardeal arcebispo da Paraíba comete o erro da generalização preconceituosa e, por isso, consegue pouco mais do que acirrar ânimos de maneira pouco racional entre “ovelhas” de um lado e de outro.
A resposta da Universal foi interessante por tocar num ponto sensível à Dom Aldo Pagotto: a política. Uma resposta dura porque fez sentido.
Pagotto é, sim, extremamente envolvido com política. É vaidoso e dado a incorporar uma espécie de liderança moralizadora. Na campanha eleitoral de 2006, participou ativamente do processo, tomando, inclusive, partido ou tendendo a apoiar a reeleição do governador Cássio Cunha Lima.
Se isso não for fazer política, confesso, então, que já não sei o que é...
Com relação à Universal, o comportamento de Dom Aldo me parece revelador de um certo “autoritarismo eclesiástico”. E, como conseqüência, estabelece, querendo ou não, um novo cenário de embate de poder no Estado. Ou não será significativo o fato de que a Rede Record, cuja repetidora na Paraíba é o Sistema Correio, grupo de mídia alinhado com a oposição ao governador, pertença à Igreja Universal? Por outro lado, existe a evidência de que Pagotto escreve com regularidade no Jornal da Paraíba, pertencente à repetidoras da Rede Globo, TVs Cabo Branco e Paraíba, que cerram fileira com o governo Cássio Cunha Lima. (Será essa uma de suas trincheiras para o enfrentamento com a Universal/Record/Correio?)
A verdade, meus amigos, é que o “rebanho paraibano” está em disputa e nessa horas as igrejas, os partidos e os meios de comunicação, todos costumam ser muito parecidos: pegam pesado. É um jogo de interesses políticos e econômicos. Nada de anormal, é próprio do sistema de mercado em que vivemos.
O que incomoda, na verdade, é sempre aquilo que ofende a liberdade e a democracia. Por hipócritas que sejam nossos conceitos de liberdade e democracia, são os melhores que temos e devemos buscar aperfeiçoá-los, jamais negá-los. Portanto, sempre que alguma autoridade, civil, militar ou eclesiástica se arvorar juíza da nossa liberdade, baseada apenas em suas crenças e dogmas, devemos reagir com firmeza. Ou acabaremos virando, literalmente, um bando de ovelhas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Considero que, em razão do fato conhecido por todos de que tem canais de comunicação midiática de primeira linha, Pagotto deveria aproveitar uma parte deste espaço para explicar histórias "secretas" por muitos comentadas sobre seu bispado no Ceará e, chegando à Paraíba, sua luta pela "inocência" de Cícero Lucena.
Sou católico e, mesmo conhecedor dos fantásticos erros cometidos por nossa igreja, temos alguns representantes desta que muito fariam por nossa fé se calados se mantivessem.

Anônimo disse...

Desde que esse Bispo chegou à Paraiba não tem feito outra coisa se não aparecer na mídia, seja emnitindo opinião acerca de tudo e de todos ou simplesmente tomando atitudes absurdas como por exemplo o caso da proibição de ornamentação em igrejas para os casamentos. me corrija se estiver errado, teve algum dia em que ele não apareceu em algum jornal falando alguma besteira ou se metendo em assuntos que não são de sua alçada. Não sou evangélico nem tão pouco católico, apenas acredito em Deus e acho que as pessoas por Ele "escolhidas" deveriam cuidar dos seus assuntos ligados à igreja. Afinal, em boca fechada não entra mosca e quem fala o quer escuta o que não quer.