4 de fev. de 2007

O PAC é marketing. E é bom.


É interessante. Quase sempre que oposição ou mídia pretendem desqualificar o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento -, proposto pelo governo Lula, abordam o assunto a partir do ponto de vista de marketing ou publicidade. É como se o defeito ou o pecado do PAC fossem suas qualidade de marketing. É evidente que o PAC veio embrulhado numa bela estratégia de marketing, começando pelo nome que remete a impacto, pacto, mas e daí? Qual o problema de o governo comunicar-se com eficiência? No que seria melhor ou pior o plano se fosse apresentado de maneira medíocre em termos de marketing? Claro que a frase de Dilma Russef, que virou manchete na Folha, tem cara de conceito plantado por marqueteiro: "o PAC é dinheiro na veia" (ou coisa parecida). Mas e daí? Onde está o erro em expressar uma intenção de maneira sucinta e clara? Se o PAC vai funcionar ou não nada tem a ver com a eficiência com que foi comunicado. Todo projeto de governo melhor será comprendido quanto melhor for a estratégia de marketing que acompanhar sua comunicação. Um bom nome, um bom conceito, são indicadores que muito colaboram para a clareza das intenções e para o propósito da mobilização em torno do plano. Como qualquer "produto" que depende do envolvimento dos outros para ser bem-sucedido, o PAC não pode prescindir do profissionalismo na comunicação. Já ficou velha essa história de insistir na categorização do marketing como artifício. O marketing, quando bem utilizado, organiza, traduz, interpreta e enaltece conceitos e qualidades inatas a produtos, serviços e planos de governo. Infelizmente, ainda vigora um certo ranço que tenta atribuir ao marketing a função única de acobertar a ineficiência e a desonestidade dos governos. Preconceito bobo. A verdade é que governantes eficientes e honestos costumam se ressentir tremendamente, ao final dos mandatos, de não se terem estruturado em termos de marketing, acreditando que era um desperdício de verba que poderia ser melhor aplicada no melhor interesse social. Outra bobagem. Uma coisa nada tem a ver com a outra. Um bom marketing para comunicar-se com a comunidade e inclui-la nos projetos sociais é tão importante quanto escolas e postos de saúde. Dispensar o marketing por preconceito ou ignorância tem seu preço. Governante que se comunica mal, que não planeja o marketing de seus projetos, tende a passar desapercebido ou, muitas vezes, mal compreendido em seus propósitos. E mais: deixa um espaço generoso na percepção popular para a oposição servir-se à vontade. Essa resistência ao marketing, advinda, inclusive, de mentes respeitáveis, lembra certas posturas ortodoxas radicais, que não aceitam, por exemplo, união homossexual por que é "contra a natureza humana". Certos analistas ufanam-se de identificar e "denunciar" conceitos de marketing embutidos na comunicação de governo, como se isso constituisse a revelação extraordinária de uma tentativa de enganar os outros. Ora, televisões, rádios, jornais, revistas, fazem marketing de si mesmos o tempo todo. Inclusive, "vendem" seus jornalistas em anúncios como diferenciais competitivos junto ao mercado consumidor de mídia. Tudo normal. É isso mesmo que tem que ser feito, quem tem o que mostrar deve apresentar-se da maneira mais inteligente, mais organizada, mais eficaz possível, em termos de estratégia de comunicação. É assim que se obtém resultados. É o que Governo Lula está fazendo. Porque, enfim, teve o bom senso de colocar um bom profissional de marketing a seu serviço. FHC fez a mesma coisa. Todos lembramos do "Avança Brasil". Não deixava de ser uma espécie de PAC tucano. Naturalmente, o crescimento do País depende de inúmeros outros fatores, além de uma boa estratégia de marketing. Mas é certo que uma boa estratégia de marketing ajuda a criar um clima favorável ao engajamento em torno do desenvolvimento. Qualquer economista sabe da substancial contribuição que uma certa disposição "emocional" do mercado pode dar ao aquecimento da economia. E cabe, principalmente, ao marketing estimular essa crença, esse otimismo, essa aposta, que faz a roda começar a andar. Queiramos ou não, vivemos num sistema que implica um "estado" de marketing permanente. Para o bem ou para o mal. Ou seremos ingênuos a ponto de acreditar que as críticas ao PAC são meramente técnicas? Claro que não. Trata-se de marketing de oposição. Aliás, com todo o direito. É uma guerra por "mercado eleitoral". Mas isso é outra história. Entendo que, neste momento, o que importa é que o governo se comunique direito. O fato de termos eleito um presidente iletrado não significa que não queiramos entender os seus conceitos de governo. Pelo contrário: se a sua retórica é confusa, melhor que esteja bem cercado de profissionais de comunicação. Afinal, a pessoa do presidente pode ser divertida, folclórica, o que quisermos. Mas o governo não. O governo precisa ser profissional. E mais profissional ele será quanto mais profissionais ele contar em todas as suas áreas. Ou seja, deixa o Santana trabalhar!

10 comentários:

Anônimo disse...

Graaaande, Stalimir!
Mais uma bela e lúcia análise.
Paranéns!

Vladimir Chaves disse...

Gostei bem sucinto...

Anônimo disse...

Faltou dizer que o Fome Zero também foi coisa de marqueteiro (Duda Mendonca) e não deu nada.

Anônimo disse...

Muito bem lembrado. Todo mundo faz marketing, por que só Lula é criticado?

Anônimo disse...

CONCORDO QUE NAO DEVEMOS TER VERGONHA DO MARKETING POIS E UMA ATIVIDADE COMO QUALQUER OUTRA.

Anônimo disse...

Stalimir. Obrigado por não nosd eixar sem seus artigos.

Pedro

Unknown disse...

"Todo mundo faz marketing, por que só Lula é criticado?"
Elementar, meu caro Gledson, porque todo mundo gostaria de estar no lugar de Lula, e do seu marketeiro também, é claro.
;)
Parabéns pela iniciativa, Stalimir. O Moído ficou bem melhor aqui, pois podemos comentar, ver a opinião dos colegas.
O jornal é uma mídia que está caminhando pra ser peça de museu.
:D

Anônimo disse...

A sigla PAC também remete a "emPACar", a "PACtóide" etc, etc.
Conta outra...

Anônimo disse...

É melhor o Brasil crescer PACas do que descrescer pra "xuxu"...

Anônimo disse...

Stalimir,
brilhante matéria. Trata-se de algo que quase todo mundo já tinha ciência, mas pouca coragem de falar. É assim: eles fazem assim, ou outros também e nós, se lá estivéssemos, faríamos igual!!!
Ah, e muito obrigado por ter buscado e encontrado um meio de brindar-nos semanalmente com sua coluna.